Jesus, Kardec e Nós



Se Jesus considerasse a si mesmo puro demais, a ponto de não tolerar o contato das fraquezas humanas; se acreditasse que tudo deve correr por conta de Deus; se nos admitisse irremediavelmente perdidos na rebeldia e na delinqüência; se condicionasse o desempenho do seu apostolado ao apoio dos homens mais cultos; se aguardasse encosto dinheiroso e valimento político a fim de realizar a sua obra ou se recuasse, diante do sacrifício, decerto não conheceríamos a luz do Evangelho, que nos descerra o caminho à emancipação espiritual.



Se Allan Kardec superestimasse a elevada posição que lhe era devida na aristocracia da inteligência, colocando honras e títulos merecidos acima das próprias convicções; se permanecesse na expectativa da adesão de personalidades ilustres à mensagem de que se fazia portador; se esperasse cobertura financeira para atirar-se à tarefa; se avaliasse as suas dificuldades de educador, com escasso tempo para esposar compromissos diferentes do magistério ou se retrocedesse, perante as calúnias e injúrias que lhe inçaram a estrada, não teríamos a codificação da Doutrina Espírita, que complementa o Evangelho, integrando-nos na responsabilidade de viver.



Refletindo em Jesus e Kardec, ficamos sem compreender a nossa inconseqüência, quando nos declaramos demasiadamente virtuosos, ocupados, instruídos, tímidos, incapazes ou desiludidos para atender às obrigações que nos cabem na Doutrina Espírita. Isso porque se eles – o Mestre e o Apóstolo da renovação humana – passaram entre os homens, sofrendo dilacerações e exemplificando o bem, por amor à verdade, quando nós – consciências endividadas – fugimos de aprender e servir, em proveito próprio, indiscutivelmente, estaremos sem perceber, sob a hipnose da obsessão oculta, carregando equilíbrio por fora e loucura por dentro.



Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco C.; VIEIRA Waldo. “Opinião espírita”. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 5. ed. Uberaba (MG): CEC, 1982. Cap. 4, p. 29-30.