O Desencarne de Chico Xavier (Parte 1/2)




Olá amigos!


Há 6 anos, no dia 30 de Junho de 2002, nosso querido Chico Xavier retornava ao Plano Espiritual. Relembrando esta data, trago para vocês uma breve descrição do que ocorreu ‘do outro lado da vida’ (paralelamente ao velório no plano físico): uma merecida recepção a esse maravilhoso médium, que tanto fez pela Doutrina Espírita e por todos nós... Que todos nós possamos aproveitar para refletir...


(
Esta descrição foi realizada pelo Espírito Inácio Ferreira, e está presente no livro “Na Próxima Dimensão”, psicografado pelo médium Carlos Alberto Baccelli.)



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(...) No Mundo Espiritual, nosso irmão Lilito Chaves veio ao nosso encontro e anunciou o que, desde algum tem­po, aguardávamos com expectativa: a desencarnação do médium Francisco Cândido Xavier, o nosso estimado Chico. O acontecimento nos impunha rápidas mudan­ças de planos, impro­visamos uma excursão à Crosta para saudar aquele que, após cumprir com êxito a sua missão, retornava à Pátria de origem.


Assim, sem maiores delongas, Odilon, Paulino e eu, juntando-nos a uma plêiade de companheiros uberabenses desencarnados, rumamos para Uberaba no começo da noite daquele domingo, dia 30 de junho.


A caminho, impressionava-nos o número de grupos espirituais, procedentes de localidades diversas, do Brasil e do Exterior, que se movimentavam com a mesma finalidade.


Todos estávamos profundamente emocionados e, mais comovidos ficamos quando, esta­cionando nas vizinhanças do “Grupo Espírita da Pre­ce”, onde estava sendo realizado o velório, com o corpo exposto à visitação pública, observamos uma faixa de luz resplandecente, que, pairando sobre a humilde casa de trabalho do médium, a ligava às Esferas Superiores, às quais não tínhamos acesso.


Conversando conosco, Odilon observou:


— Embora, evidentemente, já desligado do corpo, nosso Chico, em espírito, ainda não se ausentou da at­mosfera terrestre; os Benfeitores Espirituais que, duran­te 75 anos, com ele serviram à Causa do Evangelho, estarão, com certeza, à espera de ordens superiores para conduzi-lo a Região Mais Alta... De nossa parte, permaneçamos em oração, buscando reter conosco as lições deste raro momento.


Aproximando-nos quanto possível, notamos a for­mação de duas filas imensas, constituídas de irmãos en­carnados e desencarnados, que reverenciavam o companheiro recém-liberto do jugo opressor da matéria: eram espíritos, no corpo e fora dele, extremamente gratos a tudo que haviam recebido de suas mãos, a vida inteira dedicadas à Caridade, nas mais fiel vivência do “amai­-vos uns aos outros”. Mães e pais que, por ele haviam sido consolados em suas dores; filhos e filhas que pude­ram reatar o diálogo com os genitores saudosos, escre­vendo-lhes comoventes páginas do Outro Lado da Vida; famílias desvalidas com as quais repartira o pão; doen­tes que confortara agonizantes em seus leitos; religiosos de todas as crenças que, respeitosos, lhe agradeciam o esforço sobre-humano em prol da fé na imortalidade da alma...


Não registramos nas imediações, é bom que se diga, um só espírito que ousasse se aproximar com intenções infelizes. Os pensamentos de gratidão e as preces que lhe eram endereçadas, formavam um halo de luz protetor que tudo iluminava num raio de cinco quilômetros; po­rém essa luz amarelo-brilhante contrastava com a faixa de luz azulínea que se perdia entre as estrelas no firmamento.


A cena era grandiosa demais para ser descrita e desafiaria a inspiração do mais exímio gênio da pintura que tentasse retratá-la. Uma música suave, cujos acor­des eu desconhecia, ecoava entre nós, sem que pudés­semos identificar de onde provinha, como se invisível coral de vozes infantis, volitando no espaço, tivesse sido treinado para aquela hora.


Espíritos mais simples que passavam rente comen­tavam:


— “Este é um dos últimos... Não sabemos quando a Terra será beneficiada novamente por um espírito de tal envergadura”; “Este, de fato, procurava viver o que pregava” “Quem nos valerá agora?”; “Durante muitos anos, ele matou a fome da minha família... “Lembro-me de que, certa vez, desesperado, com a idéia de suicí­dio na cabeça, eu o procurei e a minha vida mudou”; “Os seus livros me inspiraram a ser o que fui, livrando-me de uma existência medíocre”; “Quando minha avó morreu, foi ele quem pagou seu enterro, pois, à época, éramos totalmente desprovidos de recursos”; “Fundei minha casa espírita sob a orientação de Chico Xavier, que recebeu para mim uma mensagem de incentivo e de apoio”; “Comigo, foi diferente: eu estava doente, de­senganado pela Medicina, ele me receitou um remédio de Homeopatia e fiquei bom”...


Os caravaneiros não cessavam de chegar, todos portando flâmulas e faixas com dizeres luminosos; creio sinceramente que,
em nosso Plano, jamais houve uma recepção semelhante a um espírito que tivesse deixado o corpo, após finda a sua tarefa no mundo; com exceção do Cristo e de um ou outro luminar da Espiritualidade, ninguém houvera feito jus ao aparato espiritual que se organizara em torno do desenlace de Chico Xavier.


Com dificuldade, logrando adentrar o recinto do “Grupo Espírita da Prece”, reparamos que uma comis­são de nobres espíritos, dispostos em semicírculo, todos trajando vestes luminescentes, permanecia, quanto nós mesmos, em expectativa. Odilon sussurrou-me ao ouvi­do:


— Inácio, estas são as entidades que trabalharam com ele na chamada “Coleção de André Luiz”; são os Mentores das obras que o nosso André reportou para o mundo, no desdobramento do Pentateuco Kardeciano: Clarêncio, Aniceto, Calderaro, Áulus e tantos outros...


E aqueles que estão imediatamente atrás? — inda­guei.


— São alguns representantes da família do mé­dium e amigos fiéis de longa data.


— E onde estão Emmanuel, nosso Dr. Bezerra de Menezes e Eurípedes Barsanulfo? Porventura, ainda não chegaram?...


— Devem estar — respondeu — cuidando da organi­zação...


Ao lado do seu corpo inerte, nosso Chico, segundo a visão que tive, me parecia uma criança ressonando, tranqüila, no colo de um anjo transfigurado em mulher, fazendo-me recordar, de imediato, a imagem de “Pietà”, a famosa escultura de Michelangelo.


— Quem é ela? — perguntei.


— Trata-se de D. Cidália, a sua segunda mãe...


— E D. Maria João de Deus?...


— Ao que estou informado — esclareceu Odilon —, encontra-se reencarnada no seio da própria família.


— E seu pai, o Sr. João Cândido?


— Está em processo de reencarnação, seguindo os passos da primeira esposa.


Adiantando-se, nosso Lilito indagou:


— Odilon, na sua opinião, por que o Chico está parecendo uma criança?


— Ele necessita se refazer, pois o seu desgaste, como não ignoramos, foi muito grande, mormente nos últimos anos da vida física; nosso Chico carece de se desligar completamente...


— Perderá, no entanto, a consciência de si?


— É evidente que não. O seu verdadeiro despertar acontecerá gradativamente, à medida em que se recupe­re da luta sem tréguas que travou... Aliás, a Espiritualidade Superior, nos últimos três anos, vinha trabalhando para que a sua transição ocorresse sem traumas, tanto para a imensa família espírita, que o venera, quanto para ele próprio.


Inúmeras caravanas e representações continuavam chegando, formando extensas filas, que se postavam paralelas às filas organizadas pelos nossos irmãos encar­nados, a comparecerem ao velório para render a Chico Xavier merecidas homenagens.


Dezenas e dezenas de jovens formavam grupos especiais que vinham recebê-lo no limiar da Nova Vida, gratos por ter sido ele o seu instrumento de consolo aos familiares na Terra, quando se viram compelidos à desencarnação...


A tarefa de Chico Xavier — explicou Odilon, emocionado — não tem fronteiras; raras vezes, a Espiritualidade conseguiu tamanho êxito no campo do intercâmbio mediúnico... No entanto a força que o sus­tentava nas dificuldades vinha de Cima, pois, caso con­trário, teria sucumbido às pressões daqueles que, encar­nados e desencarnados, se opõem ao Evangelho. Chico, por assim dizer, ocultou-se espiritualmente em um cor­po franzino e deu início ao seu trabalho, sem que praticamente ninguém lhe desse crédito; quando as trevas o perceberam, já havia atravessado a faixa dos vinte de idade e em franco labor, tendo pronto o “Parnaso de Além-Túmulo”, a obra inicial de sua profícua e excelen­te atividade psicográfica...


Estávamos todos profundamente emocionados. A multidão, dos Dois Lados da Vida, não parava de cres­cer e, assim como no Plano Físico os policiais cuida­vam da organização, na Dimensão Espiritual em que nos situávamos, Entidades diversas haviam sido encar­regadas de disciplinar a intensa movimentação, sem que nenhum de nós se sentisse encorajado a reclamar qual­quer privilégio com o propósito de uma maior aproxi­mação. Quase todos nos conservávamos em atitude de profundo silêncio e de reverência.


Os grupos de espíritos que haviam, ao longo de seus 75 anos de labor, trabalhado com o médium, com exceção, evidentemente, daqueles que já haviam reencarnado, se faziam representar pelos seus maiores expoentes no campo da Poesia e da Literatura.


Próxi­mas a Cidália, em cujos braços Chico Xavier descansava, à espera de que o cortejo fúnebre partisse conduzin­do os seus restos mortais, notei a presença de algumas entidades femininas que eu não soube identificar.


— Quem são? — perguntei a Odilon, que era um dos poucos dentre nós com plena liberdade de movi­mentar-se.


— Aquelas quatro primeiras, são as nossas irmãs Meimei, Maria Dolores, Scheilla e Auta de Souza; as demais são corações maternos agradecidos que, em uma ou outra oportunidade, se expressaram pela mediunidade psicográfica do nosso Chico.


— Quem estará na coordenação do evento? — in­sisti, ansioso por maiores esclarecimentos.


— O Dr. Bezerra de Menezes e Emmanuel, asses­sorados diretamente por José Xavier — respondeu.


— José Xavier?...


— Sim, o irmão do médium, que está conduzindo um grupo de espíritos amigos de Pedro Leopoldo e re­gião; quando Chico se transferiu para a cidade de Uberaba, em 1959, os seus vínculos afetivos com a sua terra natal não se desfizeram; os espíritas que constituí­ram o Centro Espírita “Luiz Gonzaga” sempre se senti­ram membros de uma única família.


— E aquele casal mais próximo que, de quando a quando, dialoga com Cidália?


— José Hermínio e D. Carmem Perácio; foram eles que iniciaram Chíco Xavier no conhecimento da Doutrina Espírita, doando-lhe exemplares de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o Espiritis­mo”...


Pude perceber, com clareza, que os filamentos perispirituais que uniam o espírito recém-desencarnado ao corpo enrijecido, se enfraqueciam gradualmente; sem dúvida, o médium, assim que se lhe cerraram os olhos físicos, desprendeu-se da forma material, no entanto, devido à necessidade de permanecer durante 48 horas exposto à visitação pública, conforme era seu desejo, exigia que o corpo, de certa forma, continuasse a rece­ber suplementos de princípio vital, evitando-se os cons­trangimentos da cadaverização. Embora aconchegado aos braços daquela que havia sido na Terra a sua segun­da mãe e grande benfeitora, o espírito Chico guardava relativa consciência de tudo...


As expectativas de quase todos, porém, se concen­travam sobre aquela faixa de luz azulínea, a qual, à medida que se abeirava a hora do sepultamento, se in­tensificava; tínhamos a impressão de que aquele cami­nho iluminado era a passagem para uma Dimensão Des­conhecida, para a qual, com certeza, Chico Xavier ha­veria de ser conduzido.



CONTINUA...