Como é Deus?



Deus não possui forma, no sentido estrito da palavra, que significa “os limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo, e que conferem a este um feitio, uma configuração, um aspecto particular” (Dicionário Aurélio do Século XXI).


Neste sentido, Allan Kardec, em excelente dissertação sobre a Natureza Divina, ressalta que Deus é imaterial, ou seja, sua natureza difere de tudo o que conhecemos por matéria, pois de outro modo estaria sujeito às suas transformações. E acrescenta: “dizemos: a mão de Deus, o olho de Deus, a boca de Deus, porque o homem, nada mais conhecendo além de si mesmo, toma a si próprio por termo de comparação para tudo o que não compreende. São ridículas essas imagens em que Deus é representado pela figura de um ancião de longas barbas e envolto num manto. Têm o inconveniente de rebaixar o Ente supremo até as mesquinhas proporções da Humanidade” (item 12 - Capítulo II de 'A Gênese' - grifo nosso).


Tal entendimento está consoante com os princípios expressos pelos Espíritos Superiores da Codificação, que, de forma clara e racional, no corpo doutrinário do Espiritismo, revelam-nos o Mundo Espiritual e a magnitude das Leis Divinas. Nesta fonte sublime de conhecimentos, informam que o Universo é composto por dois elementos - matéria e espírito - e que, acima deles, o Criador – Deus. Dos dois elementos constitutivos do Universo criado, compete à Ciência lançar luzes sobre o princípio material. Ao Espiritismo, cabe esclarecer sobre a natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal. Quanto ao Criador, “não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito” (item 8 - Capítulo II de 'A Gênese').


E Kardec, ciente das limitações que possuímos para compreender o Criador em sua essência e atento às orientações dos Benfeitores Espirituais, explora filosoficamente a idéia de Deus. O faz sem definir Deus, mas conduzindo-nos a uma compreensão de seus atributos, utilizando-se do raciocínio e da lógica e considerando nosso atual estágio de conhecimento. Isso porque há coisas que “estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas idéias e sensações, não tem meios de exprimir” (questão 13 de 'O Livro dos Espíritos').


Deste exercício, com base na proposta de que Deus deve se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber”, Allan Kardec nos brinda com uma das mais inspiradas excursões nos atributos divinos, que ora reproduzimos conforme consta nos comentário da questão 13 de 'O Livro dos Espíritos':


“Deus é eterno. Se tivesse tido princípio, teria saído do nada, ou, então, também teria sido criado, por um ser anterior. É assim que, de degrau em degrau, remontamos ao infinito e à eternidade.


É imutável. Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam.


É imaterial. Quer isto dizer que a sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, ele não seria imutável, porque estaria sujeito às transformações da matéria.


É único. Se muitos Deuses houvesse, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo.


É onipotente. Ele o é, porque é único. Se não dispusesse do soberano poder, algo haveria mais poderoso ou tão poderoso quanto ele, que então não teria feito todas as coisas. As que não houvesse feito seriam obras de outro Deus.


É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela, assim nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da bondade de Deus.”


A compreensão dos atributos de Deus nos permite fazer uma idéia melhor da Divindade, uma vez que não O vemos mais como algo circunscrito e limitado. Infelizmente, para a maioria das pessoas, Deus ainda é visto como um “soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus” (item 21 - Capítulo II de 'A Gênese').


Deus está em toda parte. Se não o percebemos, é porque estamos ainda envoltos em nossas imperfeições, obscurecidos pela matéria. “Sendo Deus a essência divina por excelência, unicamente os Espíritos que atingiram o mais alto grau de desmaterialização o podem perceber. (...) O que há é que as imperfeições daqueles Espíritos são vapores que os impedem de vê-lo. Quando o nevoeiro se dissipar, vê-lo-ão resplandecer” (item 34 - Capítulo II de 'A Gênese').


Portanto, se desejamos sentir a presença do Criador, compete a cada um de nós empreender os esforços necessários para nossa depuração espiritual, despojando-nos das imperfeições e ampliando nossa percepção de Deus. Deste modo, estaremos prontos para receber os eflúvios de Seu pensamento e, a exemplo do Mestre Jesus, conhecer Sua Vontade Soberana. Antes disso, “somos quais cegos de nascença a quem procurassem inutilmente fazer compreendessem o brilho do Sol” (item 37 - Capítulo II de 'A Gênese').



Fonte: Site OSGEFIC