Sessões Mediúnicas – Parte I


Introdução


As sessões mediúnicas propriamente ditas são as que se destinam à relação normal dos homens com os espíritos para fins de esclarecimento e orientação. A expressão paranormal, adotada e divulgada pela Parapsicologia, não se aplica ao campo espírita. Foi criada para substituir as expressões sobrenatural e patológica, das religiões e ciências do passado. No Espiritismo sabemos que as manifestações mediúnicas são ocorrências normais, que se verificaram desde todos os tempos, e mais, que essas ocorrências são de vários graus, desde a simples percepção extra-sensorial até às aparições, às materializações ou fenômenos de ectoplasmia (segundo a definição metapsíquica) e aos fenômenos de agêneres, bem definidos por Kardec. Nossas relações com os espíritos são constantes e naturais, tanto se passam no plano puramente mental, quanto no psíquico em geral e no plano sensorial. A comunicação mediúnica oral, escrita, tiptológica (através de pancadas ou raps), voz-direta (ou psicofonia subjetiva ou objetiva), como esclareceu Kardec, ocorre normalmente. A mente do desencarnado, como verificou em nosso tempo o cientista Wathely Carington, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, é a mesma do homem, do espírito encarnado.

Como os espíritos são, segundo Kardec, “uma das forças da Natureza”, e convivem conosco, como os micróbios, os vírus, suas relações conosco são evidentemente normais, fazem parte do complexo de fenômenos da existência humana natural. O critério do normal e do anormal não decorre de normas estabelecidas pelos homens, mas da naturalidade dos fatos no equilíbrio das leis naturais. A loucura é anormal porque é um desequilíbrio. Nos fenômenos mediúnicos as leis naturais foram definidas por Kardec e posteriormente confirmadas pelas pesquisas científicas em todo o mundo. Os que pretenderam teorizar sobre a chamada loucura espírita só conseguiram revelar sua ignorância do assunto ou sua má-fé a serviço de interesses mesquinhos de sectarismos bastardos.

Desde a selva até a civilização, os fenômenos mediúnicos se verificam em todos os tempos, como um processo normal de comunicações entre homens e espíritos. Como esse processo se passa entre mundos de dimensões materiais diferentes, Rhine concordou em chamá-los de extrafísicos, o que na verdade não está certo, pois o plano espiritual também possui densidade física e a própria Física foi obrigada a reconhecer essa realidade em nossos dias. É graças a essa identidade física que o espírito desencarnado, mas ainda revestido do corpo espiritual da tradição cristã (classificado na pesquisa soviética como corpo bioplásmico, formado de plasma físico) consegue relacionar-se energeticamente com o corpo denso do médium e comunicar-se com os homens. O que se chama de mediunidade não é mais do que a possibilidade menor ou maior desse relacionamento, na verdade existente em todos os indivíduos humanos. O ato mediúnico é, portanto, um ato de relacionamento humano, em que o sobrenatural só pode figurar como antiga superstição reavivada por pessoas cientificamente incapazes ou pelo menos desatualizadas.

A expressão médium (intermediário) adotada por Kardec, é a mais apropriada, estando por isso mesmo generalizada em nossos dias, sendo empregada até mesmo nas ciências soviéticas. Expressões como sensitivos, psicorrágigos metérgicos e outras servem apenas para denunciar posições contrárias ao Espiritismo. Mas o médium não é apenas o intermediário dos espíritos de pessoas mortas. O médium é também o intermediário de si mesmo, dos extratos profundos de sua personalidade anímica, da consciência subliminar da teoria de Frederic Myers. As manifestações anímicas dos médiuns não são mistificações, mas catarses necessárias para aliviá-lo de tensões conflitivas de sua memória profunda que perturbam o seu comportamento atual. Os fenômenos de vidência, visão à distância, precognição e outros são também mediúnicos, pois constituem manifestações de entidades subsistentes no psiquismo ancestral do médium ou o desencadear de percepções contidas nas hipóstases reencarnatórias da sua consciência subliminar.

Alguns estudiosos ainda discutem se a mediunidade é uma faculdade orgânica ou espiritual. Outros, mais afoitos e menos cuidadosos, chegam a afirmar que é uma faculdade do corpo. Basta a descrição de Kardec sobre o ato mediúnico para mostrar que a faculdade é espiritual. As pesquisas científicas modernas não deixam nenhuma possibilidade de dúvida a respeito. O espírito comunicante não se liga ao corpo material do médium, mas ao seu perispírito (o corpo espiritual) ou de maneira direta à sua mente, que, segundo Rhine e outros “não é física”.

Podemos reduzir a explicação da mediunidade numa frase: “Mediunidade é a capacidade do espírito desprender-se parcial ou totalmente do corpo, sem dele se desligar”. Desprende-se o espírito para estabelecer relações com outros espíritos ou projetar-se à distância, mas não se desliga, pois o desligamento só ocorre no fenômeno da morte. Na própria ausência psíquica de curta duração, em meio a uma conversa, quando se diz: Não ouvi o que você falou, pois meu espírito estava longe, temos um fato mediúnico. Graças a essa possibilidade, inerente à condição humana, os espíritos de pessoas vivas podem também comunicar-se.


Do livro “O Espírito e o Tempo” - Herculano Pires